segunda-feira, 13 de setembro de 2010

INFORMÁTICA E EDUCAÇÃO



POR: Maykon Israel Velho da Silva

Resumo: O uso da informática na educação tem sido amplamente divulgado, através de projetos e pesquisas nesta área. No entanto ainda não se sabe a maneira certa de aplicar esses recursos ao processo de ensino aprendizagem. Na maioria das vezes estes projetos acabam sendo usados apenas como atividade extraclasse e quase nunca como ferramenta complementadora da ação pedagógica. Busca-se cada vez mais associar os elementos: Educação e Informática como sinônimo de modernidade, porém de nada adianta um aparato tecnológico se os profissionais da área ainda encontram uma grande barreira no seu uso. Seja por desinformação, falta de tempo ou acesso; o fato é que o correto uso da informática enquanto possibilitadora de acesso ao conhecimento ainda é bastante escasso. Na maioria das vezes acaba servindo apenas para o lazer e diversão de professores e alunos. Porém se faz necessário à capacitação desses docentes para que possibilitem a seus educandos a saudável integração ao meio tecnológico com o objetivo de formar cidadãos cada vez mais éticos, atuantes e informados sobre o mundo globalizado que o cerca.

Palavras-chave: tecnologia – educação - formação



1. INTRODUÇÃO

A integração entre educação, sociedade e tecnologia é algo amplamente discutido nos dias atuais. Não é mais possível fechar os olhos diante da presença cada vez mais constante da mídia tecnológica no dia-a-dia dos cidadãos do mundo inteiro. Em ações cotidianas o sujeito se depara com a presença da informática: seja em uma transação bancária, e um supermercado até no transporte público de cada dia. Como cita Lyotard (1988:4) "multiplicação de máquinas informacionais afeta a circulação de conhecimentos, do mesmo modo que o desenvolvimento dos meios de circulação dos homens (transporte), dos sons e das imagens (media) o fez".

Dominar ou ao menos conhecer o uso dessas tecnologias se faz não só necessário como também essencial para o convívio e interação social.

A escola não pode se manter apática e distante desta realidade, ao contrário, deve ser o ambiente propiciador na aquisição dessa competência. Já que muitas vezes acaba sendo o único meio que o indivíduo possui de ingressar neste vasto mundo tecnológico. Principalmente aqueles oriundos de camadas menos favorecidas cultural e financeiramente. Embora este indivíduo esteja emerso nestas tecnologias em seu cotidiano, na maioria das vezes ao invés de facilitar seu dia-a-dia. Estes recursos acabam sendo, mais um obstáculo para sua ascensão profissional, diminuído a possibilidade de competir em igualdade com sujeitos chamados "alfabetizados tecnológicos" aumentando o número de desempregados e inchando as estatísticas de pobreza e miserabilidade.

1.1. Papel da Escola

À escola cabe o papel de mediadora neste processo democratizador dos recursos tecnológicos. Para isso é essencial, que além de possuir uma estrutura propícia, a mesma, conte com profissionais capacitados agindo nos laboratórios de informática, buscando novas informações, norteando o caminho dos educandos e principalmente "contagiando" os mestres para a junção de seus conteúdos programáticos com as ferramentas do meio virtual, tornando assim, o processo de apreensão e compreensão algo mais agradável e lúdico, pois de nada adianta incorporar uma nova tecnologia como a informática sem antes buscar condições mínimas para o seu manuseio.

Muitas vezes, os professores se sentem retraídos diante destas "novas" tecnologias, principalmente quando percebe que o domínio de seus educandos em relação a estes recursos é maior ou mais "natural" que o seu, e acabam evitando essa exposição e inibindo a busca por um resultado satisfatório para a sua prática pedagógica. Porém com a ajuda de um profissional competente, e com um processo de capacitação voltado diretamente para o professor, com o objetivo de familiarizá-lo com esta ferramenta, permitira que o sanasse essas inseguranças, apropriando-se da facilidade que a criança e o jovem possui em manusear essas tecnologias. Criando uma possibilidade de troca, cumplicidade e compromisso com o processo de aprender e ensinar.

Esta interação estreitaria os laços do relacionamento professor/aluno e aluno/aluno. Pois aquele que sabe um pouco mais irá auxiliar os que têm mais dificuldades, e estes, terão a humildade e a possibilidade de aprender.

1.2. Na prática:

Muitas vezes o mestre se depara com situações difíceis em sala de aula, com alunos de diferentes realidades sociais, com uma bagagem pré-estabelecida. Essa diferença faz com que as aulas precisem ser planejadas e elaboradas, visando atingir o máximo possível de aproveitamento individual desses aprendizes.

A informática, no geral é muita atrativa, e pode se tornar uma poderosa ferramenta de elucidação dos assuntos abordados. Conseguindo assim, "seduzir" os mais diferentes pensares dos jovens e crianças. Desta forma, pode ser usado como um "chamaris" para esses alunos que geralmente demonstram falta de interesse nos assuntos de aula.

Uma experiência interessante seria solicitar aos alunos ditos "problemas" que assumissem o compromisso com o professor, de monitorar as aulas de informática, ou seja, eles seriam os responsáveis pela localização de informações (fazendo com que assim ele se envolva com o conteúdo), pela organização dessas (aprendendo lições como: disciplina e pensamento lógico), manutenção do laboratório de informática e repasse do conteúdo encontrado (com isso esse educando estará trabalhando seus valores éticos, melhorando sua auto-estima percebendo suas capacidades cognitivas, e superando suas aparentes limitações. Além de se tornarem reconhecidos pelo resto da turma. O que resolverIa os problemas de indisciplina, já que eles estão sendo alvo de atenções, o motivo geral pelo qual na maioria das vezes esses alunos são indisciplinados). O professor pode aproveitar esse momento (da escolha do monitor) tornando-o solene e dando ênfase ao compromisso de cada um com o envolvimento na disciplina e no que fora aprendido, reforçado-o depois em sala de aula.

Esse tipo de experiência é apenas uma entre muitas possibilidades do bom uso dos computadores na educação como um aliado versátil e não mais um "Marketing" mercadológico (ou seja, pra mostrar que a escola é moderna e segue a tendências evolutivas da educação atual), mas como uma ferramenta, por que não dizer, resgatadora de uma série de valores pessoais e sociais.

A informática na educação sempre necessitará ser um meio de aprendizado, embuído de uma série de fatores motivadores anteriormente planejadas, para que não corra o risco de cair no mau uso, se tornando apenas num momento de diversão, numa aula "diferente" para agradar a pais (já que esperam que os mesmos sejam usados) e alunos, uma "oba-oba" sem planejamento. O que pode se tornar um pesadelo para o professor, pois sem planejamento, sua aula tecnológica corre o risco de se tornar em um "pandemônio modernizado".

O "mundo digital" abre uma série de "portas" e "janelas" para o saber. Além de excluir fronteiras, encurtar distâncias e aproximar pessoas do mundo inteiro. É como se todo conhecimento acumulado ao longo dos séculos, estivesse ao alcance de todos, com um simples clique. Entretanto, segundo a Apple, "a nova tecnologia não é um fator isolado" (1986). É necessário que seus usuários se tornem além de operadores, em agentes e transformadores deste mundo informacional, criando um novo paradigma pedagógico.



2. A INFORMÁTICA E O ENSINO

Existe uma enorme desigualdade em relação às condições das escolas públicas. Pois ainda uma grande maioria delas, não conta sequer com energia elétrica. Outras não têm nem mesmo, infra-estrutura própria, e poucas são as que estão informatizadas. Estas geralmente estão localizadas distantes daquela clientela que realmente necessitaria destes recursos, estudantes de periferias e áreas rurais. Que acabam sempre ficando a margem da evolução, do progresso e das possibilidades deste mundo dito: Globalizado... Já que o papel da ciência e da tecnologia nos dias atuais é tão intenso e presente que é quase impossível imaginar um espaço, onde hoje elas não se façam presentes. E quem não tem o mínimo de domínio sobre esses fatores, com certeza está excluído desse espaço.

Outro grande obstáculo, para aquelas escolas que já possuem laboratório de informática, é acreditar demasiadamente que essas tecnologias irão resolver todos os problemas educacionais, substituindo a relação do professor em sala, de aula virando uma tábua de salvação, para o sistema educacional, na maioria das vezes falido, que por se achar atualizado, tendenciona-se a estagnar, (parafraseando Marcos Bagno:2001) virando um "poço parado de conhecimento" e não um "rio caudaloso de pesquisa" que deveria ser seu real empenho e função. Muitos não percebem que o computador, a televisão e a mídia em geral devem ser vistas como um auxiliar e não como um substituto da aula expositiva, do contato professor/aluno, da troca entre colegas... pois se fosse assim o indivíduo não necessitaria se abalar de sua casa até a escola, já que grande maioria das crianças e jovens da classe média possui estes equipamentos na sua própria casa.

2.1. Atitude a ser tomada

O professor deve sim valorizar e lançar mão destes meios, no entanto, como já fora dito, como um recurso a mais para tornar sua aula atrativa e dinâmica. Com o crescente número de CD-ROMS e softwares, mesmo não sendo diretamente direcionada a educação, permitem ao estudante um acesso mais rápido e lúdico ao conhecimento.

Mediando o correto uso, permeando pesquisas e produções, o professor interferirá positivamente no uso dos mesmos. Pois sem essa intervenção, o uso ficará restrito a um ato de recepção (passiva) de informação (muitas vezes manipuladas), quando não, apenas mais uma forma de diversão.

Todavia, é fundamental vencer estes primeiros desafios colocados pela informatização no ambiente escolar. Democratizando o seu acesso, e estudando minuciosamente as implicações na questão de organização do sistema de ensino. Evitando assim aprofundar-se mais ainda no enorme abismo que distancia as camadas sociais, culturais e econômicas de nosso país, ao invés de inclusão digital (que tanto se comenta) estaremos tornando a informática em mais um sistema exclusor.



3. CONCLUSÃO

Educação e Informática são duas realidades irmanadas nas esperanças de um futuro melhor, onde as informações adquiridas e elaboradas nestes primeiro ambiente possam se difundir aos mais diversos lugares em tempo e quantidades recordes. No mundo contemporâneo, a aliança entre: tecnologia, pesquisa e saber, são capazes de criar uma nova forma de moldar o futuro, antecipando-o.

Antes dessa "parceria" o acesso ao saber elaborado, despendia um grande tempo e esforço. Mas hoje isso é instantâneo. Devemos ter cuidado então para que a reelaboração ativa deste saber se dê de uma forma saudável e produtiva. Então cabe a escola e a seus agentes, utilizar corretamente essa aquisição. Moldando-a conforme sua realidade e necessidade. Isso é um mundo globalizado, o saber é de todos, mas seu uso é individual, local e real. Não apenas uma célula passiva no organismo vivo da estrutura mundial.

O ser humano é dotado da capacidade de gerar transformação, contribuir com o movimento evolutivo (às vezes positiva, outras negativamente), mas, nós educadores não podemos deixar de conscientizar o sujeito de seu papel nessa transformação. A informática é uma ponte de ligação entre os mais diversos processos de cognição. Porém não podemos permitir o distanciamento da cultura tecno-ciêntífica da humanística. Integrá-las, é sem dúvida o grande desafio da escola hoje. E precisa ser enfrentada com urgência pelos educadores em geral.

Caso isso não ocorra às previsões para o futuro provavelmente serão caóticas, pois infelizmente haverá uma nova seleção em nossa existência, e dessa vez não será uma seleção natural, mas sim tecnológica. Nos tornaremos tão dependentes do computador, a ponto de não sabermos mais como viver sem sua presença (será que isso está tão distante?), relembremos o ocorrido na virada do último século quando nos deparamos com o chamado "bug do milênio". Se isso já causou todo esse transtorno, a ponto de preverem o caos com a parada total das atividades comerciais contemporâneas, imagine qual será a nossa dependência dessa máquina daqui alguns anos...

Precisamos perceber que a máquina foi criada com o objetivo único, de facilitador do nosso dia-a-dia e não como um instrumento ceifador de nossa idepêndencia. Se a escola não der o primeiro passo para percpção desta e de outras realidade, quem o fará? A globalização? Com certeza não, pois esta está economicamente intrincada com os paises desenvolvidos, e para eles esse fator alienador, lhes é favoravelmente útil. Cabe então à educação esse árduo papel.

A informática deve sim ser usada, não podemos fugir dela, mas podemos a utilizar em prol de uma realidade mais concreta, possibilitadora de um avanço real da cultura do saber, não ficando apenas na subjetividade do mundo virtual; antes, engajá-la ao mesmo. "Nunca se soube tanto em tão pouco tempo", mas nunca também se teve notícia, de um distanciamento tão grande dos valores morais e éticos em nossa sociedade. Algo precisa ser feito. Mas nada será possível se os formadores de opinião, entre eles os professores, não discutirem buscando novas alternativas para esta realidade que bate a nossa porta.

Quiçá assim, possamos contrapor esses dois mundos, gerando uma nova forma de ver o processo de ensino-aprendizagem, através da nova realidade transformacional em que estamos inseridos. Precisamos urgentemente tomar o leme da modernização, para que não nos tornemos "escravos virtuais" do sistema globalizado.

Pois como utopicamente sonha a poetisa Rosena Kligerma Murray:

"No ano 3000

os homens já vão ter

se cansado de máquinas

e as casas serão novamente românticas.

O tempo vai ser usado sem pressa:

Gerânios enfeitarão as janelas,

Amigos escreverão longas cartas.

Cientistas inventarão novamente

o bonde, a charrete.

Pianos de cauda encherão as tardes de música

E a Terra flutuará no céu

muito mais leve, muito mais leve."



REFERÊNCIAS

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CARNEIRO, R. Informática na educação: representações sociais do cotidiano. São Paulo, Cortez, 2002.

CHAVES, E.O.C. Informática e educação. http://www.chaves.com.br/TEXTSELF/EDTECH/cartgraf.htm. Acessado em 15 de Dezembro de 2005.

CITELLY, A.(COORD). Outras Linguagens na escola: publicidade, cinema e tv, rádio, jogos, informática. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2004.

CUNHA, R. Informatização nas escolas ainda é pequena. http://www.comciencia.br/especial/inclusao/inc01.shtml. Acessado em 13 de Dezembro de 2005.

KLIGRMAN, M. R. Contracapa da Revista Ciência das Crianças. SPBC, mar/abr. 1995.

LEITE. M. A influência da mídia educação. http://www.redebrasil.tv.br/educacao. Acessado em 15 de Dezembro de 2005.

LYOTARD, J. O pós-moderno. 3ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1988.

BAGNO, Marcos. Preconceito lingüístico. São Paulo: Edições Loyola, 2001.

MUTZIG, J. M. G. Artigo sobre o Programa Nacional de Informática na Educação. http://www.proinfo.mec.gov.br. Acessado em 16 de Dezembro de 2005.

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PRETTO, N. de L. Uma escola sem/com Futuro - educação e multimídia, Campinas: Papirus. 1996, capítulo III

. Logo: Computadores e Educação. São Paulo: Brasiliense, 1985.

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