quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Como utilizar as tecnologias na escola


Especialista em mudanças na educação presencial e a distância [*]
  
1. Tecnologias para organizar a informação
Do ponto de vista metodológico, o educador precisa aprender a equilibrar processos de organização e de “provocação” na sala de aula. Uma das dimensões fundamentais do ato de educar é ajudar a encontrar uma lógica dentro do caos de informações que temos, organizá-las numa síntese coerente, mesmo que momentânea, compreendê-las. Compreender é organizar, sistematizar, comparar, avaliar, contextualizar. Uma segunda dimensão pedagógica procura questionar essa compreensão, criar uma tensão para superá-la, para modificá-la, para avançar para novas sínteses, outros momentos e formas de compreensão. Para isso, o professor precisa questionar, criar tensões produtivas e provocar o nível da compreensão existente.
No planejamento didático, predomina uma organização fechada e rígida quando o professor trabalha com esquemas, aulas expositivas, apostilas, avaliação tradicional. O professor que “dá tudo mastigado” para o aluno, de um lado, facilita a compreensão; mas, por outro, transfere para o aluno, como um pacote pronto, o conhecimento de mundo que ele tem.
Predomina a organização aberta e flexível no planejamento didático, quando o professor trabalha a partir de experiências, projetos, novos olhares de terceiros: artistas, escritores... etc. Em qualquer área de conhecimento, podemos transitar entre uma organização inadequada da aprendizagem e a busca de novos desafios, sínteses. Há atividades que facilitam a má organização, e outras, a superação dos métodos conservadores. O relato de experiências diferentes das do grupo ou, uma entrevista polêmica podem desencadear novas questões, expectativas, desejos. E há também relatos de experiências ou entrevistas que servem para confirmar nossas idéias, nossas sínteses, para reforçar o que já conhecemos. Precisamos saber escolher aquilo que melhor atende ao aluno e o traz para uma contemporaneidade.
Há professores que privilegiam a organização questionadora, o questionamento, a superação de modelos e não chegam às sínteses, nem mesmo parciais, provisórias. Vivem no incessante fervilhar de provocações, questionamentos, novos olhares. Nem o sistematizador nem o questionador podem prevalecer no conjunto. É importante equilibrar organização e inovação; sistematização e superação.

2. Tecnologias para ajudar na pesquisa
A matéria prima da aprendizagem é a informação organizada, significativa: a informação transformada em conhecimento. A escola pesquisa a informação pronta, já consolidada e a informação em movimento, em transformação, que vai surgindo da interação, de novos fatos, experiências, práticas, contextos. Existem áreas com bastante estabilidade informativa: fatos do passado, que só se modificam diante de alguma nova evidência. E existem áreas, as mais ligadas ao cotidiano, que são altamente susceptíveis de mudança, de novas interpretações.
As tecnologias nos ajudam a encontrar o que está consolidado e a organizar o que está confuso, caótico, disperso. Por isso é tão importante dominar ferramentas de busca da informação e saber interpretar o que se escolhe, adaptá-lo ao contexto pessoal e regional e situar cada informação dentro do universo de referências pessoais.
Muitos se satisfazem com os primeiros resultados de uma pesquisa. Pensam que basta ler para compreender. A pesquisa é um primeiro passo para entender, comparar, escolher, avaliar, contextualizar, aplicar de alguma forma.
Cada vez temos mais informação e não necessariamente mais conhecimento. Quanto mais fácil é achar o que queremos, mais tendemos a acomodar-nos na preguiça dos primeiros resultados, na leitura superficial de alguns tópicos, na dispersão das muitas janelas que abrimos simultaneamente.
Hoje consumimos muita informação Não quer dizer que conheçamos mais e que tenhamos mais sabedoria - que é o conhecimento vivenciado com ética, praticado. Pela educação de qualidade avançamos mais rapidamente da informação para o conhecimento e pela aprendizagem continuada e profunda chegamos à sabedoria.
O foco da aprendizagem é a busca da informação significativa, da pesquisa, o desenvolvimento de projetos e não predominantemente a transmissão de conteúdos específicos. As aulas se estruturam em projetos e em conteúdos. A Internet está se tornando uma mídia fundamental para a pesquisa. O acesso instantâneo a portais de busca, a disponibilização de artigos ordenados por palavras-chave facilitaram em muito o acesso às informações necessárias. Nunca como até agora professores, alunos e todos os cidadãos possuíram a riqueza, variedade e acessibilidade de milhões de páginas WEB de qualquer lugar, a qualquer momento e, em geral, de forma gratuita.
O educador continua sendo importante, não como informador nem como papagaio repetidor de informações prontas, mas como mediador e organizador de processos. O professor é um pesquisador – junto com os alunos – e articulador de aprendizagens ativas, um conselheiro de pessoas diferentes, um avaliador dos resultados. O papel dele é mais nobre, menos repetitivo e mais criativo do que na escola convencional.
Os professores podem ajudar os alunos incentivando-os a saber perguntar, a enfocar questões importantes, a ter critérios na escolha de sites, de avaliação de páginas, a comparar textos com visões diferentes. Os professores podem focar mais a pesquisa do que dar respostas prontas. Podem propor temas interessantes e caminhar dos níveis mais simples de investigação para os mais complexos; das páginas mais coloridas e estimulantes para as mais abstratas; dos vídeos e narrativas impactantes para os contextos mais abrangentes e assim ajudar a desenvolver um pensamento arborescente, com rupturas sucessivas e uma reorganização semântica contínua.
Entre as iniciativas de disponibilização de materiais educacionais para pesquisa destaca-se o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) de Chicago, que oferece todo o conteúdo dos seus cursos em várias línguas, facilitando o acesso de centenas de milhares de alunos e professores a materiais avançados e sistematizados, disponíveis on-line http://www.universiabrasil.net/mit/[1]
 Alunos, professores, a escola e a comunidade se beneficiam. Atualmente, a maior  parte das teses e dos artigos apresentados em congressos estão publicados na Internet. O estar no virtual não é garantia de qualidade (esse é um problema que dificulta a escolha), mas amplia imensamente as condições de aprender, de acesso, de intercâmbio, de atualização. Tanta informação dá trabalho e nos deixa ansiosos e confusos. Mas é muito melhor do que acontecia antes da Internet, quando só uns poucos privilegiados podiam viajar para o exterior e pesquisar nas grandes bibliotecas especializadas das melhores universidades. Hoje podemos fazer praticamente o mesmo sem sair de casa.
A variedade de informações sobre qualquer assunto, num primeiro momento, fascina, mas, ao mesmo tempo, traz inúmeros novos problemas: O que pesquisar? O que vale a pena acessar? Como avaliar o que tem valor e o que deve ser descartado?. Essa facilidade costuma favorecer a preguiça do aluno, a busca do resultado pronto, fácil, imediato, chegando até à apropriação do texto do outro. Além da facilidade de “copiar e colar”, o aluno costuma ler só algumas frases mais importantes e algumas palavras selecionadas, dificilmente lê um texto completo.
Jakob Nielsen e John Morkes constaram em uma pesquisa que 79 % dos usuários de Internet sempre lêem palavras ou trechos escolhidos, através de títulos atrativos, enquanto somente 16 % se detêm na leitura do texto completo [2] .Na França: 85% dos alunos de ensino fundamental (8ª série) se contentam com os resultados trazidos pelo primeiro site de busca consultados e somente lêem rapidamente os primeiros três resultados trazidos. Isto quer dizer que a maior parte dos alunos procura o que é mais fácil, o imediato e o lê de forma fragmentada, superficial. E quanto mais possibilidades de informação, mais rapidamente tendemos a navegar, a ler pedaços de informação, a passear por muitas telas de forma superficial.
Por isso, é importante que alunos e professores levantem as principais questões relacionadas com a pesquisa: Qual é o objetivo da pesquisa e o nível de profundidade da pesquisa desejado? Quais são as “fontes confiáveis” para obter as informações? Como apresentar as informações pesquisadas e indicar as fontes de pesquisa nas referências bibliográficas? Como avaliar se a pesquisa foi realmente feita ou apenas copiada?
 Umas das formas de analisar a credibilidade do conteúdo da sua pesquisa é verificar se ele está dentro de um portal educacional, no site de uma universidade ou em qualquer outro espaço já reconhecido. E verificar também a autoria do artigo ou da reportagem.
Pensando mais nos usuários jovens e adultos, Nilsen e Morkes propõem algumas características que uma página da WEB precisa apresentar para ser efetivamente lida e pesquisada:

- palavras-chave realçadas (links de hipertexto, tipo de fonte e cor funcionam como realce);
- sub-títulos pertinentes (e não "engraçadinhos");
- listas indexadas;
- uma informação por parágrafo (os usuários provavelmente pularão informações adicionais, caso não sejam atraídos pelas palavras iniciais de um parágrafo);
- estilo de pirâmide invertida, que principia pela conclusão;
- metade do número de palavras (ou menos) do que um texto convencional. A credibilidade é importante para os usuários da WEB, porque nem sempre se sabe quem está por trás das informações nem se a página pode ser digna de confiança. Pode-se aumentar a credibilidade através de gráficos de alta qualidade, de um texto correto e de links de hipertexto apropriados. É importante colocar links que conduzam a outros sites, que comprovem que há pesquisa por trás e que dêem sustentação para que os leitores possam checar as informações dadas.
Os usuários não valorizam as afirmações exageradas e subjetivas (tais como "o mais vendido") tão predominante na WEB hoje em dia. Os leitores preferem dados precisos. Além disso, a credibilidade é afetada quando os usuários conseguem perceber o exagero.
Além do acesso aos grandes portais de busca e de referência na educação, uma das formas mais interessantes de desenvolver pesquisa em grupo na Internet é o webquest .
O conceito de Webquest foi criado em 1995, por Bernie Dodge, professor da universidade estadual da Califórnia, EUA, como proposta metodológica para usar a Internet de forma criativa [3] . Dodge a define assim a Webquest: "É uma atividade investigativa em que alguma ou toda a informação com que os alunos interagem provém da Internet." Em geral, uma Webquest é elaborada pelo professor, para ser solucionada pelos alunos, reunidos em grupos. [4]
A Webquest sempre parte de um tema e propõe uma tarefa, que envolve consultar fontes de informação especialmente selecionadas pelo professor. Essas fontes (também chamadas de recursos) podem ser livros, vídeos, e mesmo pessoas a entrevistar, mas normalmente são sites ou páginas na WEB. É comum que a tarefa exija dos alunos a representação de papéis para promover o contraste de pontos de vista ou a união de esforços em torno de um objetivo.
Bernie Dodge divide a Webquest em dois tipos, ligados à duração do projeto e à dimensão de aprendizagem envolvida:
Webquest curta - leva de uma a três aulas para ser explorada pelos alunos e tem como objetivo a aquisição e integração de conhecimentos.
Webquest longa - leva de uma semana a um mês para ser explorada pelos alunos, em sala de aula, e tem como objetivo a extensão e o refinamento de conhecimentos.
Resolver uma Webquest é um processo de aprendizagem interessante, porque envolve pesquisa e leitura; interação e colaboração e criação de um novo produto a partir do material e idéias obtidas.
A webquest propicia a socialização da informação: por estar disponível na Internet, pode ser utilizada, compartilhada e até reelaborada por alunos e professores de diferentes partes do mundo. O problema da pesquisa não está na Internet, mas na maior importância que a escola dá ao conteúdo programático do que à pesquisa como eixo fundamental da aprendizagem.


3. Tecnologias para comunicação e publicação
Os alunos gostam de se comunicar pela Internet. As páginas de grupos na Internet permitem o envio de correio eletrônico e seu registro numa página WEB. Tem ferramentas de discussão on line (chat) e off-line (fórum).  O chat ou outras formas de comunicação on-line são ferramentas muito apreciadas pelos alunos e bastante desvalorizadas pelos professores. Alega-se a dispersão (em geral, real) e o não aprofundamento das questões. Mas há a predisposição dos alunos para a conversa on-line. Faz parte dos seus hábitos na Internet. Com as novas soluções, como o videochat, o chat com voz e algumas formas de gerenciamento podem ser muito úteis em cursos semi-presenciais e a distância.
A escola, com as redes eletrônicas, abre-se para o mundo; o aluno e o professor se expõem, divulgam seus projetos e pesquisas, são avaliados por terceiros, positiva e negativamente. A escola contribui para divulgar as melhores práticas, ajudando outras escolas a encontrar seus caminhos. A divulgação hoje faz com que o conhecimento compartilhado acelere as mudanças necessárias e agilize as trocas entre alunos, professores, instituições. A escola sai do seu casulo, do seu mundinho e se torna uma instituição onde a comunidade pode aprender contínua e flexivelmente.
Quando focamos mais a aprendizagem dos alunos do que o ensino, a publicação da produção deles se torna fundamental. Recursos como o portfólio, em que os alunos organizam o que produzem e o colocam à disposição para consultas, é cada vez mais utilizado. Os blogs, fotologs e videologs são recursos muito interativos de publicação, com possibilidade de fácil atualização e de participação de terceiros. São páginas na Internet, fáceis de se desenvolver, e que permitem a participação de outras pessoas. Começaram no “modo texto”, depois evoluíram para a apresentação de fotos, desenhos e outras imagens e, atualmente, estão na fase do vídeo. Professores e alunos podem gravar vídeos curtos, com câmeras digitais, e disponibilizá-los como ilustração de um evento ou pesquisa.
Os blogs, flogs (fotologs ou videologs) são utilizados mais pelos alunos do que pelos professores, principalmente como espaço de divulgação pessoal, de mostrar a identidade, onde se misturam narcisismo e exibicionismo, em diversos graus. Atualmente, há um uso crescente dos blogs por professores dos vários níveis de ensino, incluindo o universitário. Eles permitem a atualização constante da informação, pelo professor e pelos alunos, favorecem a construção de projetos e pesquisas individuais e em grupo, e a divulgação de trabalhos. Com a crescente utilização de imagens, sons e vídeos, os flogs têm tudo para explodir na educação e se integrarem com outras ferramentas tecnológicas de gestão pedagógica. As grandes plataformas de educação à distância ainda não descobriram e incorporaram o potencial dos blogs e flogs.
A possibilidade de os alunos se expressarem, tornarem suas idéias e pesquisas visíveis, confere uma dimensão mais significativa aos trabalhos e pesquisas acadêmicos. “São aplicativos fáceis de usar que promovem o exercício da expressão criadora, do diálogo entre textos, da colaboração”, explica Suzana Gutierrez, da UFRGS. “Blogs possuem historicidade, preservam a construção e não apenas o produto (arquivos); são publicações dinâmicas que favorecem a formação de redes”. [5]
"Os weblogs abrem espaço para a consolidação de novos papéis para alunos e professores no processo de ensino-aprendizagem, com uma atuação menos diretiva destes e mais participante de todos." A professora Gutiérrez lembra que os blogs registram a concepção do projeto e os detalhes de todas as suas fases, o que incentiva e facilita os trabalhos interdisciplinares e transdisciplinares. "Pode-se assim, dar alternativas interativas e suporte a projetos que envolvam a escola e até famílias e comunidade." [6] Os blogs também são importantes para aprender a pesquisar juntos e a publicar os resultados.
Há diferentes tipos de blogs educacionais: produção de textos, narrativas, poemas, análise de obras literárias, opinião sobre atualidades, relatórios de visitas e excursões de estudos, publicação de fotos, desenhos e vídeos produzidos por alunos. A organização dos textos pode ser feita através de algumas ferramentas colaborativas como o Wiki, que é um software que permite a edição coletiva dos documentos usando um sistema simples de escrita e sem que o conteúdo tenha que ser revisado antes da sua publicação. A maioria dos wikis são abertos a todo o público ou pelo menos a todas as pessoas que têm acesso ao servidor wiki. [7]
A Internet tem hoje inúmeros recursos que combinam publicação e interação, por meio de listas, fóruns, chats, blogs. Existem portais de publicação mediados, em que há algum tipo de controle, e outros abertos, baseados na colaboração de voluntários. O site www.wikipedia.org/ apresenta um dos esforços mais notáveis, no mundo inteiro, de divulgação do conhecimento. Milhares de pessoas contribuem para a elaboração de enciclopédias sobre todos os temas, em várias línguas. Qualquer indivíduo pode publicar e editar o que as outras pessoas escreveram. Só em português foram divulgados mais de 30 mil artigos na wikipedia. Com todos os problemas envolvidos, a idéia de que o conhecimento pode ser co-produzido e divulgado é revolucionária e nunca antes havia sido tentada da mesma forma e em grande escala. Aqui, contudo, professores e alunos precisam validar a fonte, pois algumas vezes há informações incorretas.
Outro recurso popular na educação é a criação de arquivos digitais sonoros, programas de rádio na Internet ou PodCasts.  São arquivos digitais, que se assemelham a programas de rádio e podem ser baixados da internet usando a tecnologia RSS[9], que "avisa" quando há um novo episódio colocado na rede e permite que ele seja baixado para o computador. Há podcasts em todas as áreas[8] [9]
São muitas as possibilidades de utilização dos blogs na escola. Primeiro, pela facilidade de publicação, que não exige nenhum tipo de conhecimento tecnológico dos usuários, e segundo, pelo grande atrativo que estas páginas exercem sobre os jovens. "É preciso apenas que os professores se apropriem dessa linguagem e explorem com seus alunos as várias possibilidades deste novo ambiente de aprendizagem. O professor não pode ficar fora desse contexto, deste mundo virtual que seus alunos dominam. Mas cabe a ele direcionar suas aulas, aproveitando o que a internet pode oferecer de melhor", afirma a educadora Gládis Leal dos Santos. [10]
Palloff e Pratt [11] afirmam que as chaves para a obtenção de uma aprendizagem em comunidade, bem como uma facilitação on-line bem sucedida, são simples, tais como: honestidade, correspondência, pertinência, respeito, franqueza e autonomia, elementos sem os quais não há possibilidade de se atingir os objetivos de ensino propostos.
 

[*] Este texto faz parte do meu livro A educação que desejamos: Novos desafios e como chegar lá (4ª ed, Papirus, 2009, p. 101-111)
 [1] Os cursos do MIT disponibilizados em inglês estão em  http://ocw.mit.edu/OcwWeb/index.htm
[2] Jakob NIELSEN. Como os Usuários Lêem na Web. Revista eletrônica Conecta, 22/02/2003. Disponível em http://www.revistaconecta.com/conectados/nielsen_como_usuarios.htm .
[3] Uma das formas de organizar pesquisas em grupos de forma colaborativa é utilizando o Webquest, criado por Bernie Dodge, da Universidade de São Diego. Páginas interessantes sobre o essa metodologia estão em www.webquest.futuro.usp.br, webquest.sp.senac.br/ e   www.sgci.mec.es/br/cv/webquest. 
[4] Veja a nota anterior sobre os endereços do WEBQUEST na Internet.
[5] Vale a pena ler o capítulo "Projetos de aprendizagem colaborativa num paradigma emergente" do livro Novas tecnologias e mediação pedagógica de José Manuel MORAN, Marcos MASETTO e Marilda BEHRENS. 12ª ed.Campinas: Papirus, 2006. Também é interessante o livro de Goéry Delacôte, Enseñar y aprender com nuevos métodos. Barcelona, Gedisa editorial, 1996.
 [6] Priscilla Brossi GUTIERREZ. Blogs na sala de aula; Cresce o uso pedagógico da ferramenta de publicação de textos na Internet. In http://www.educarede.org.br/educa/revista_educarede/especiais.cfm?id_especial=221
  [9] Através de um arquivo RSS os autores desses programas de rádio caseiros disponibilizam aos seus "ouvintes" possibilidade de ouvir ou baixar os novos "programas", utilizando softwares como o Ipodder é possível baixar os novos programas automaticamente, até mesmo sem precisar acessar o site do autor, podendo gravá-los depois em aparelhos de mp3, CDs ou DVDs e ouvir quando quiser.
[10] Blogs como ferramentas pedagógicas. Acessível em:  http://www.ead.sp.senac.br/newsletter/agosto05/destaque/destaque.htm
[11] Construindo comunidades de aprendizagem no ciberespaço. p192-194.


A leitura e as novas mídias: certezas e incertezas






Márcia Vidal*
O momento pelo qual passamos atualmente apresenta muitas mudanças. E a principal delas é o advento da “sociedade da informação”.
Diferentemente da Revolução Industrial, em que a máquina era o ápice de tudo, o que se define atualmente de nova economia é o uso da informação intensiva, que permite o aumento da produtividade e a redução da mão-de-obra e exige uma “melhor formação intelectual” dos profissionais que atuam no mercado.
A globalização, com suas vantagens e desvantagens, impõe regras que fazem parte da formação de uma nova sociedade, caracterizada pelo neoliberalismo desenfreado.
Segundo Pedro Demo, há quatro chaves que explanam essa nova realidade: a busca de talento, a perfeição nos resultados, a disponibilidade de forças e a busca da forma correta de agir.
No dia-a-dia, isso acontece freqüentemente. Por exemplo: quando procuramos emprego, o que importa é o talento que temos, e nossa experiência não é levada em consideração. Uma vez que o empregado esteja trabalhando, a empresa exige dele a perfeição e a execução de múltiplas funções, pois ele é a ferramenta de trabalho dela. Mas, quando essa ferramenta se torna inválida, é descartada friamente e substituída por outra sem dificuldade. Nesse caso, prevalece a oferta pela procura, ficando essa situação sempre cíclica.
Com relação a isso, Demo descreve dez dinâmicas: predominância dos processos descentralizadores, prevalência do retorno crescente, normalização da plenitude, privilégio da liberdade, honra ao trabalho, importância da produtividade, mudança do sentido de espaço, adoção do desequilíbrio sustentável, comando da tecnologia e desprezo às oportunidades.
Torno a citar a relação do empregado com uma empresa onde inexista a figura do chefe de setor, cuja prioridade é surtir a coleta de “frutos”, gerados pela tecnologia. O homem torna-se apenas uma peça que não influi em nada, mesmo que “vista a camisa” da empresa.
Sob o ponto de vista da leitura e formação do leitor na sociedade contemporânea, a problemática está vinculada aos novos suportes da informação. Fazendo uma retrospectiva histórica, tudo começou com o livro. Em seguida, surgiu o rádio; mais tarde, o cinema; depois, a televisão; e, agora, o computador.
Sempre presente em todos os setores da vida humana como algo fundamental e complementar, o computador, aos poucos, vai modificando a sociedade com seus apetrechos e manhas, influenciando profundamente o comportamento humano. Uma vez acomodado, a tendência do homem é cultuar a solidão e atrair novos problemas de saúde, como estresse e lesões por esforço repetitivo.
Mas ressalto que a adoção desses novos meios tecnológicos prioriza somente algumas classes sociais, porque, para as mais carentes, o único meio de obter informação continua sendo o rádio ou a televisão.
Diante disso, as pessoas são propensas a reduzir seu esforço intelectual, já que a tecnologia se encarrega de tudo. Sem generalizar, ainda há aqueles que resistem a essas mudanças e continuam buscando conhecimento em livros, jornais ou outros meios de comunicação escrita. E tudo isso depende, exclusivamente, da cultura.
É interessante observar que algumas crianças, assim como alguns adolescentes e adultos, recusam-se a ler livros reais, mas, quando se trata de algum instrumento virtual, este se torna bem-vindo. Isso dificulta o desenvolvimento por meio de outros tipos de linguagem.
Assim, temos certeza do que pode vir a acontecer: uma acomodação causada pelo virtual e a incerteza de até quando existirão aqueles que não se deixam manipular por essa pretensa evolução, buscando apoio e suportes antigos para alimentar seu conhecimento.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
DEMO, Pedro. Certeza da incerteza: ambivalências do conhecimento e da vida. Brasília: Plano, 2000.


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Márcia Vidal
Coordenação de Bibliotecas C7s


Disponível em: http://www.educacional.com.br/articulistas/outrosTecnologia_artigo.asp?artigo=artigo0037

Sete motivos para um professor criar um blog


Por: Betina von Staa
A intenção é trazer para cá algumas das idéias
que a gente vê perdidas pelo mundo — real ou virtual

(Blog de Nelson Vasconcelos)
Nesse mundo da tecnologia, inventam-se tantas novidades que realmente é difícil acompanhar todas as possibilidades de trabalho que elas abrem para um professor. Recentemente, surgiu mais uma: o blog.
Mas o que vem a ser isso? Trata-se de um site cujo dono usa para fazer registros diários, que podem ser comentados por pessoas em geral ou grupos específicos que utilizam a Internet. Em comparação com um site comum, oferece muito mais possibilidades de interação, pois cada post (texto publicado) pode ser comentado. Comparando-se com um fórum, a discussão, no blog, fica mais centrada nos tópicos sugeridos por quem gerencia a página e, nele, é visualmente mais fácil ir incluindo novos temas de discussão com freqüência para serem comentados.
Esse gênero foi rapidamente assimilado por jovens e adultos do mundo inteiro, em versões pessoais ou profissionais. A novidade é tão recente; e o sucesso, tamanho, que em seis anos, desde o início de sua existência, em 1999, o buscador Google passou a indicar 114 milhões de referências quando se solicita a pesquisa pelo termo “blog”, e, só no Brasil, aparecem 835 mil resultados hoje. 
No mundo acadêmico, por sua vez, esse conceito ainda é praticamente desconhecido. O banco de periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) não apresenta nenhuma referência sobre o tema e, mesmo em buscas internacionais, são pouquíssimos os trabalhos a respeito do que se pode fazer com um blog nas escolas. Todas as referências encontradas estão no pé deste artigo.
Não é à toa que tantos jovens e adultos começaram a se divertir publicando suas reflexões e sua rotina e que tantos profissionais, como jornalistas e professores, começaram a entrar em contato com seu público e seus alunos usando esse meio de comunicação. No blog, tudo acontece de uma maneira bastante intuitiva; e não é porque a academia ainda não disse ao professor que ele pode usar um blog que essa forma de comunicação deve ser deixada de lado. Com esse recurso, o educador tem um enorme espaço para explorar uma nova maneira de se comunicar com seus alunos. Vejamos sete motivos pelos quais um professor deveria, de fato, criar um blog.
1-     É divertido
É sempre necessário termos um motivo genuíno para fazer algo e, realmente, não há nada que legitime mais uma atividade que o fato de ela ser divertida. Um blog é criado assim: pensou, escreveu. E depois os outros comentam. Rapidamente, o professor vira autor e, ainda por cima, tem o privilégio de ver a reação de seus leitores. Como os blogs costumam ter uma linguagem bem cotidiana, bem gostosa de escrever e de ler, não há compromisso nem necessidade de textos longos, apesar de eles não serem proibidos. Como também é possível inserir imagens nos blogs, o educador tem uma excelente oportunidade de explorar essa linguagem tão atraente para qualquer leitor, o que aumenta ainda mais a diversão. O professor, como qualquer “blogueiro”, rapidamente descobrirá a magia da repercussão de suas palavras digitais e das imagens selecionadas (ou criadas). É possível até que fique “viciado” em fazer posts e ler comentários. 
2-     Aproxima professor e alunos
Com o hábito de escrever e ter seu texto lido e comentado, não é preciso dizer que se cria um excelente canal de comunicação com os alunos, tantas vezes tão distantes. Além de trocar idéias com a turma, o que é um hábito extremamente saudável para a formação dos estudantes, no blog, o professor faz isso em um meio conhecido por eles, pois muitos costumam se comunicar por meio de seus blogs. Já pensou se eles puderem se comunicar com o seu professor dessa maneira? O professor “blogueiro” certamente se torna um ser mais próximo deles. Talvez, digital, o professor pareça até mais humano.
3-     Permite refletir sobre suas colocações
O aspecto mais saudável do blog, e talvez o mais encantador, é que os posts sempre podem ser comentados. Com isso, o professor, como qualquer “blogueiro”, tem inúmeras oportunidades de refletir sobre as suas colocações, o que só lhe trará crescimento pessoal e profissional. A primeira reação de quem passou a vida acreditando que diários devem ser trancados com cadeado, ao compreender o que é um blog, deve ser de horror: “O quê? Diários agora são públicos?”. Mas pensemos por outro lado: que oportunidade maravilhosa poder descobrir o que os outros acham do que dizemos e perceber se as pessoas compreendem o que escrevemos do mesmo modo que nós! Desse modo, podemos refinar o discurso, descobrir o que causa polêmica e o que precisa ser mais bem explicado ao leitor. O professor “blogueiro” certamente começa a refletir mais sobre suas próprias opiniões, o que é uma das práticas mais desejáveis para um mestre em tempos em que se acredita que a construção do conhecimento se dá pelo diálogo.
4-     Liga o professor ao mundo
Conectado à modernidade tecnológica e a uma nova maneira de se comunicar com os alunos, o educador também vai acabar conectando-se ainda mais ao mundo em que vive. Isso ocorre concretamente nos blogs por meio dos links (que significam “elos”, em inglês) que ele é convidado a inserir em seu espaço.  Os blogs mais modernos reservam espaços para links, e logo o professor “blogueiro” acabará por dar algumas sugestões ali. Ao indicar um link, o professor se conecta ao mundo, pois muito provavelmente deve ter feito uma ou várias pesquisas para descobrir o que lhe interessava. Com essa prática, acaba descobrindo uma novidade ou outra e tornando-se uma pessoa ainda mais interessante. Além disso, o blog será um instrumento para conectar o leitor a fontes de consulta provavelmente interessantes. E assim estamos todos conectados: professor, seus colegas, alunos e mundo.
5- Amplia a aula
Não é preciso dizer que, com tanta conexão possibilitada por um blog, o professor consegue ampliar sua aula. Aquilo que não foi debatido nos 45 minutos que ele tinha reservados para si na escola pode ser explorado com maior profundidade em outro tempo e espaço. Alunos interessados podem aproveitar a oportunidade para pensar mais um pouco sobre o tema, o que nunca faz mal a ninguém. Mesmo que não caia na prova.
6-     Permite trocar experiências com colegas
Com um recurso tão divertido em mãos, também é possível que os colegas professores entrem nos blogs uns dos outros. Essa troca de experiências e de reflexões certamente será muito rica. Em um ambiente onde a comunicação entre pares é tão entrecortada e limitada pela disponibilidade de tempo, até professores de turnos, unidades e mesmo escolas diferentes poderão aprender uns com os outros. E tudo isso, muitas vezes, sem a pressão de estarem ali por obrigação. (É claro que os blogs mais divertidos serão os mais visitados. E não precisamos confundir diversão com falta de seriedade profissional.)
7-     Torna o trabalho visível
Por fim, para quem gosta de um pouco de publicidade, nada mais interessante que saber que tudo o que é publicado (até mesmo os comentários) no blog fica disponível para quem quiser ver. O professor que possui um blog tem mais possibilidade de ser visto, comentado e conhecido por seu trabalho e suas reflexões. Por que não experimentar a fama pelo menos por algum tempo?
Antes de fazer seu próprio blog, vale a pena consultar as realizações de algumas pessoas comuns ou dos mais variados profissionais. Faça uma busca livre pela Internet para descobrir o que se faz nos blogs pelo mundo afora e (re)invente o seu!

Referências bibliográficas:
DICKINSON, Guy. Weblogs: can they accelerate expertise? Tese de mestrado em Educação da Ultralab, Anglia Polytechnic University, Reino Unido, 2003. Acesso em: 29 jul. 2005.
GENTILE, Paola. Blog: diário (de aprendizagem) na rede. Nova escola, jun./jul. 2004. Acesso em: 29 jul. 2005.
KOMESU, Fabiana Cristina. Blogs e as práticas de escrita sobre si na Internet. In: MARCUSCHI, Luiz Antônio; XAVIER, Antônio Carlos. Hipertexto e gêneros digitais. Rio de Janeiro: Lucerna, 2004.
LEARNING and Leading with Technology. BlogOn, 2005. vol 32, n. 6.
Sete motivos para um professor criar um blog

Disponível em: http://www.educacional.com.br/articulistas/betina_bd.asp?codtexto=636


O processo educativo nas ondas do rádio



Por: Leila dos Anjos


A educação envolve um processo de comunicação interativa de troca. Segundo Freire, “a educação é comunicação, é diálogo, na medida em que não é transferência de saber, mas um encontro de sujeitos interlocutores que buscam a significação dos significados” (2002, p.69). A saber, o processo educativo é
O comportamento que mais marca o quotidiano das nossas vidas, e é o mais quotidiano dos processos que orienta o nosso agir. Seja como ensino, seja como aprendizagem, procura sistematizar o conjunto do dia a dia de todos os seres humanos de diversas idades que coexistem (ITURRA, acesso: 2 jul 2010).
 “Talvez seja necessário lembrar dois pontos que tenho encontrado no trabalho de campo, a este respeito: 1- Que o elemento básico da incorporação de um indivíduo no grupo é a teoria da rede de relações na qual se encontra inserido e que dá os direitos e deveres entre as pessoas. 2- Que a teoria de como se pode vencer a matéria da qual se depende para subsistir, define o uso do corpo e transmite à jovem camada os usos dos artefactos que existem junto de si. Quando chega à escola, o entendimento do mundo já está feito e preenchido. A criança sabe claramente a função social das pessoas e dos objectos. Assim, quem passa a uma segunda etapa de incorporação, tem já a sua memória cultural estabelecida onde o saber se desenvolve por categorias particulares” (ITURRA, 1990, p.52).
Deste modo, a educação consiste em transformar a vida dos receptores/alunos em um processo constante de aprendizagem. A aprendizagem é um processo no qual o receptor/aluno deve participar, ativamente, por conta da motivação do emissor/professor e guiá-lo através dos diferentes estágios do Processo da Aprendizagem. Contudo,
Os processos educativos são complexos para os investigadores e exigem o contributo de várias ciências. Sabe-se que os processos educativos são universais, mas variam de cultura para cultura, profissão para profissão, de grupo para grupo, etc., tanto nos conteúdos como nos contextos formais (VIEIRA, 2006, p.529).
E ainda, o modelo da educação pode se dividir em três grupos: educação formal, educação não-formal e educação informal. A educação formal é o sistema educativo institucionalizado cronologicamente graduado e hierarquicamente estruturado. A educação não-formal é o processo que abrange toda atividade organizada executada fora do quadro do sistema formal com tipo selecionado de ensino. E, a educação informal é o processo diluído circunstancial que se desenrola no decurso de encontros, leituras ou no decurso do cotidiano pela mídia. Decerto, a educação informal quando utilizada pela mídia, no caso específico do rádio, pode desenvolver no indivíduo o processo educativo, despertando a prática da cidadania e na colaboração com a formação de indivíduos. Como diz Moran:
“Os meios de comunicação desempenham também um importante papel educativo, transformando-se, na prática, numa segunda escola, paralela à convencional. Os meios são processos eficientes de educação informal, porque ensinam de forma atraente e voluntária - ninguém é obrigado, ao contrário da escola, a observar, julgar e agir tanto individual como coletivamente” (MORAN, acesso em: 02 jul.2010).
Nesse sentido, o rádio é posto como um meio de comunicação popular capaz de levar informação, entretenimento e educação para os ouvintes. Portanto, o rádio tem muito valor, principalmente, numa sociedade que existem milhões de analfabetos que têm o rádio como único meio de se manter conectado com o mundo. Certamente, esse sucesso do rádio pode ser percebido por conta da linguagem simples (não tem a necessidade de expor a palavra por meio da linguagem escrita) e objetiva que é capaz de atingir o público de diversas classes. Além disso, o rádio é o único meio que informa, explica, dialoga, acompanha o ouvinte e ainda pode influenciar seu imaginário.
Conseqüentemente, já que o rádio tem como características a sensorialidade – dá vazão a imaginação e exerce relação emocional nos diálogos, a dinâmica – rapidez na produção de conteúdos, a visibilidade – permite audição das mensagens sem impedir a realização de outras atividades, o imediatismo, a instantaneidade, o baixo custo que transformam o rádio num veículo rápido, versátil e acessível, há a possibilidade de transformá-lo em uma ferramenta para ser utilizada no processo educativo, tanto dentro das escolas quanto dentro da própria emissora. Além disso, este método é eficaz e aguça a criatividade dos ouvintes, sendo capaz de estimular as pessoas à leitura, o que garante perenidade da informação educativa.
Dessa forma, entende-se que é praticamente impossível falar de educação sem relacioná-la aos meios de comunicação. Diante disso, o rádio tem se mostrado uma mídia estratégica para a utilização da educação informal na medida em que pode trabalhar, de acordo com as idéias de Paulo Freire, com o multiculturalismo (a garantia do resgate e aproveitamento da cultura local ou regional), com a transversalidade (temas como ética, meio-ambiente, saúde, orientação sexual, trabalho e consumo), com a interdisciplinaridade e na alquimia do conhecimento (do cognitivo para o relacional, incluindo a parte emocional e a afetiva).



 Disponível em:
http://www.gostodeler.com.br/materia/13387/o_processo_educativo_nas_ondas_do_radio.html

José Manuel Moran: vídeos são instrumentos de comunicação e de produção

Entrevista publicada no Portal do Professor do MEC em 06.03.2009
Doutor em Comunicação pela Universidade de São Paulo (USP), José Manuel Moran é assessor da Faculdade Sumaré, em São Paulo e professor aposentado da USP.
Nascido na Espanha e naturalizado brasileiro, Moran é um estudioso das formas de integração entre as tecnologias de comunicação, especialmente a internet, na educação presencial e a distância, dentro de uma visão humanista e inovadora.
Tem vários artigos e livros publicados sobre comunicação pessoal, educação e tecnologias, onde procura integrar a visão humanista com a inovação tecnológica. Como ver televisão (1991) e Novas Tecnologias e Mediação Pedagógica (2000) são algumas de suas obras.
Nas décadas de 70 e 80 participou do Projeto Leitura Crítica da Comunicação, da União Cristã Brasileira de Comunicação Social (UCBC), que orientava pais e professores não só a analisar os meios de comunicação, principalmente a televisão e o jornal, como também a integrá-los como tecnologias e mídias na educação.
Jornal do Professor - De que maneira os vídeos podem facilitar o processo de ensino e aprendizagem?
José Manuel Moran - As linguagens da TV e do vídeo respondem à sensibilidade dos jovens e da grande maioria da população adulta. São dinâmicas, dirigem-se antes à afetividade do que à razão. As crianças e os jovens lêem o que pode visualizar, precisam ver para compreender. Toda a sua fala é mais sensorial-visual do que racional e abstrata. Lêem nas diversas telas que utilizam: da TV, do DVD, do celular, do computador, dos games.
Os vídeos facilitam a motivação, o interesse por assuntos novos. Os vídeos são dinâmicos, contam histórias, mostram e impactam. Facilitam o caminho para níveis de compreensão mais complexos, mais abstratos, com menos apoio sensorial como os textos filosóficos, os textos reflexivos.
Os vídeos também são um grande instrumento de comunicação e de produção. Os alunos podem criar facilmente vídeos a partir do celular, do computador, das câmaras digitais e divulgá-los imediatamente em blogs, páginas web, portais de vídeos como o YouTube.
Os computadores e celulares deixaram de ser apenas ferramentas de recepção. Hoje, são também de produção. Uma criança pode tirar fotos ou fazer vídeos com um celular e publicá-los na internet. Professores e alunos podem ter acesso a inúmeros vídeos prontos e assisti-los no momento ou salvá-los para exibição posterior. Ao mesmo tempo, todos podem editar, produzir e divulgar novos conteúdos a partir do computador ou do celular. Entramos numa nova era da mobilidade e da integração das tecnologias, como nunca antes foi possível.
JP - Como os vídeos podem ser utilizados em sala de aula?
JMM - Os vídeos podem ser utilizados em todas as etapas do processo de ensino e aprendizagem. Os principais usos são:
Para motivar, sensibilizar os alunos – É, do meu ponto de vista, o uso mais importante na escola. Um bom vídeo é interessantíssimo para introduzir um novo assunto, para despertar a curiosidade, a motivação para novos temas. Isso facilitará o desejo de pesquisa nos alunos para aprofundar o assunto do vídeo e da matéria.
Para ilustrar, contar, mostrar, tornar próximos temas complicados – O vídeo pode ajudar a tornar mais próximo um assunto difícil, a ilustrar um tema abstrato, a visibilizar cenários de lugares, eventos, distantes do cotidiano. Hoje, é muito mais fácil do que antes encontrar e visualizar vídeos sobre qualquer assunto importante na internet, em portais como o YouTube, por exemplo.
Como vídeo-aulas – Alguns vídeos trazem assuntos já preparados para os alunos, já estão organizados como conteúdos didáticos. Utilizam técnicas interessantes de manter o interesse, como dramatizações, depoimentos, cenas de filmes, jogos, tempo para atividades. Podem ser adequados para que o professor não tenha que explicar determinados assuntos. O professor age a partir do vídeo, com questionamentos, problematização, discussão, elaboração de síntese, formas de aplicação no dia-a-dia. Esses vídeos podem ser disponibilizados no portal da escola e os alunos podem acessá-los fora da sala de aula também.
Vídeo como produção individual ou coletiva – As crianças adoram fazer vídeo e a escola precisa incentivar o máximo possível a produção de pesquisas em vídeo pelos alunos. A produção em vídeo tem uma dimensão moderna, lúdica. Moderna, como um meio contemporâneo, novo e que integra linguagens. Lúdica, pela miniaturização das câmaras, que permite brincar com a realidade, levá-las junto para qualquer lugar. Filmar é uma das experiências mais envolventes tanto para as crianças como para os adultos. Os alunos podem ser incentivados a produzir dentro de uma determinada matéria, ou dentro de um trabalho interdisciplinar. E também produzir programas informativos, feitos por eles mesmos e colocá-los em lugares visíveis dentro da escola e em horários onde muitas crianças possam assisti-los e também na página web da escola ou em blogs ou portais da internet.
O vídeo também é importante para documentação, registro de eventos, de aulas, de estudo do meio, de experiências, de entrevistas, depoimentos. Isto facilita o trabalho do professor, dos alunos e da comunidade. Esse material pode ser divulgado, quando conveniente, na internet.
O vídeo também pode ser útil para avaliação, principalmente as que mostram situações complexas, estudos de caso, projetos, sozinho ou com textos relacionados.
JP - Que tipo de atividade deve ser evitada quando se está trabalhando com vídeos nas escolas? Que tipo de atividade é mais adequada?
JMM - Algumas formas inadequadas de utilização do vídeo:
Vídeo-tapa buraco: colocar vídeo quando há um problema inesperado, como ausência do professor. Usar este expediente eventualmente pode ser útil, mas se for feito com frequência, desvaloriza o uso do vídeo e o associa - na cabeça do aluno - a não ter aula.
Vídeo-enrolação: exibir um vídeo sem muita ligação com a matéria. O aluno percebe que o vídeo é usado como forma de camuflar a aula. Pode concordar na hora, mas percebe o mau uso.
Vídeo-deslumbramento: O professor que acaba de descobrir a facilidades de baixar vídeos da Internet costuma empolgar-se e exibi-los em todas as aulas, esquecendo outras dinâmicas mais pertinentes. O uso exagerado do vídeo diminui a sua eficácia e empobrece as aulas.
Vídeo-perfeição: Existem professores que questionam todos os vídeos possíveis porque possuem erros de informação ou estéticos (qualidade). Os vídeos que apresentam conceitos problemáticos podem ser usados para uma análise mais aprofundada a partir da sua descoberta, problematizando-os.
Só exibição: não é satisfatório, didaticamente, exibir os vídeos sem discuti-los, sem integrá-lo com os assuntos das aulas, sem rever alguns momentos mais importantes.
Algumas atividades mais adequadas são: introduzir um assunto, complementar informações; provocar discussões, trabalhos de grupo para discussão, debates; levantamento de sugestões do grupo, estudo dirigido para verificação da compreensão e da habilidade de transferir conhecimentos recebidos para novas situações (projetos); alunos protagonistas, fazendo trabalhos em vídeo, apresentando-os para a classe e divulgando-os na página web da escola.
JP - Quais os benefícios que a produção de vídeos pode trazer para os alunos?
JMM – Maior interesse dos alunos (linguagem familiar); aulas mais atraentes, pois os vídeos estimulam a participação e as discussões; alunos desenvolvem mais a criatividade, sua comunicação audiovisual e a interação com outros colegas e outras escolas; melhor fixação dos assuntos principais pelos alunos (visão mais concreta sobre eles), já que os vídeos trazem a realidade para a sala de aula e para a aprendizagem significativa; complementação das discussões do material impresso.
Mas nem tudo são benefícios. Os professores, apesar de reconhecer muitas vantagens no uso do vídeo, utilizam-no realmente pouco. A maior parte só trabalha com o vídeo na sala de aula esporadicamente, não habitualmente. Há dificuldades materiais, e principalmente, dificuldades em ter o material adequado para o programa da matéria. A maior parte dos professores não conhece os vídeos que existem na sua área, quais são bons e, os poucos que eles conhecem, nem sempre estão disponíveis, por razões econômicas. Percebe-se, ainda, uma grande desinformação no uso do vídeo, não só tecnicamente, mas principalmente didaticamente.
JP - Quais dicas o senhor daria para professores que nunca trabalharam com produção de vídeos antes? O que deve ser observado mais atentamente pelos professores?
JMM - Que observem e aprendam com seus alunos. Os mais novos têm uma facilidade no manuseio de muitas telas (da TV, do celular, do computador, dos videojogos, das câmaras digitais). É importante aprender com eles e, ao mesmo tempo, fazer algum curso que inclua aspectos técnicos e pedagógicos. Um dos esquemas básicos de organização da produção de um vídeo um pouco mais complexo, costuma ter os seguintes passos:
Idéia: a idéia ou o tema principal que move a produção de um vídeo; Elaboração do roteiro: momento em que a idéia toma forma propriamente dita. Nesta etapa definem-se os personagens, os estilos de filmagem, e o que se pretende, de fato, passar para o público com a obra;
Plano de filmagem: nesta parte acontece a elaboração de uma planilha, onde são especificados todos os locais de filmagem, bem como suas datas, horários, diálogos, personagens, figurino, cenário, tempo de cada cena, etc.
Captura das imagens: filmagem propriamente dita;
Decupagem das imagens: nesta etapa, os alunos assistem ao material gravado, selecionando o que é útil para a finalização da obra;
Pré-edição: as imagens são transferidas para o computador e ordenadas em pastas e sub-pastas;
Edição: montagem das imagens no computador, aplicação de efeitos, inserção de trilha sonora, de legendas ou frases de texto etc;
Finalização: gravação em mídia DVD, disponibilização em um portal da escola ou em um portal de vídeos.
JP - É necessário ter uma ilha de edição de imagens? Quais os equipamentos necessários para produzir um vídeo simples?
JMM - Para começar não é necessário um equipamento sofisticado. Há programas de edição de imagens, alguns mais simples e baratos e outros mais sofisticados e caros. O mais simples vem com o Windows XP ou Vista: é o movie maker. Permite alterar o filme da forma que cada um quiser, com um clique na opção linha do tempo. Hoje, algumas câmaras digitais já permitem fazer edição de fotos ou vídeos nelas mesmas.
Tendo idéias e motivação facilmente se encontram as soluções técnicas mais adequadas para cada situação. O professor pode pedir aos alunos que encontrem as melhores soluções técnicas de edição.
Com as tecnologias digitais móveis, o avanço na conexão em redes, a WEB 2.0 com tantos recursos gratuitos colaborativos, há inúmeras soluções simples de acessar vídeos, de produzir vídeos, de editar vídeos e de publicar vídeos.

Fonte: http://www.eca.usp.br/prof/moran/videos.htm

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

INFORMÁTICA E EDUCAÇÃO



POR: Maykon Israel Velho da Silva

Resumo: O uso da informática na educação tem sido amplamente divulgado, através de projetos e pesquisas nesta área. No entanto ainda não se sabe a maneira certa de aplicar esses recursos ao processo de ensino aprendizagem. Na maioria das vezes estes projetos acabam sendo usados apenas como atividade extraclasse e quase nunca como ferramenta complementadora da ação pedagógica. Busca-se cada vez mais associar os elementos: Educação e Informática como sinônimo de modernidade, porém de nada adianta um aparato tecnológico se os profissionais da área ainda encontram uma grande barreira no seu uso. Seja por desinformação, falta de tempo ou acesso; o fato é que o correto uso da informática enquanto possibilitadora de acesso ao conhecimento ainda é bastante escasso. Na maioria das vezes acaba servindo apenas para o lazer e diversão de professores e alunos. Porém se faz necessário à capacitação desses docentes para que possibilitem a seus educandos a saudável integração ao meio tecnológico com o objetivo de formar cidadãos cada vez mais éticos, atuantes e informados sobre o mundo globalizado que o cerca.

Palavras-chave: tecnologia – educação - formação



1. INTRODUÇÃO

A integração entre educação, sociedade e tecnologia é algo amplamente discutido nos dias atuais. Não é mais possível fechar os olhos diante da presença cada vez mais constante da mídia tecnológica no dia-a-dia dos cidadãos do mundo inteiro. Em ações cotidianas o sujeito se depara com a presença da informática: seja em uma transação bancária, e um supermercado até no transporte público de cada dia. Como cita Lyotard (1988:4) "multiplicação de máquinas informacionais afeta a circulação de conhecimentos, do mesmo modo que o desenvolvimento dos meios de circulação dos homens (transporte), dos sons e das imagens (media) o fez".

Dominar ou ao menos conhecer o uso dessas tecnologias se faz não só necessário como também essencial para o convívio e interação social.

A escola não pode se manter apática e distante desta realidade, ao contrário, deve ser o ambiente propiciador na aquisição dessa competência. Já que muitas vezes acaba sendo o único meio que o indivíduo possui de ingressar neste vasto mundo tecnológico. Principalmente aqueles oriundos de camadas menos favorecidas cultural e financeiramente. Embora este indivíduo esteja emerso nestas tecnologias em seu cotidiano, na maioria das vezes ao invés de facilitar seu dia-a-dia. Estes recursos acabam sendo, mais um obstáculo para sua ascensão profissional, diminuído a possibilidade de competir em igualdade com sujeitos chamados "alfabetizados tecnológicos" aumentando o número de desempregados e inchando as estatísticas de pobreza e miserabilidade.

1.1. Papel da Escola

À escola cabe o papel de mediadora neste processo democratizador dos recursos tecnológicos. Para isso é essencial, que além de possuir uma estrutura propícia, a mesma, conte com profissionais capacitados agindo nos laboratórios de informática, buscando novas informações, norteando o caminho dos educandos e principalmente "contagiando" os mestres para a junção de seus conteúdos programáticos com as ferramentas do meio virtual, tornando assim, o processo de apreensão e compreensão algo mais agradável e lúdico, pois de nada adianta incorporar uma nova tecnologia como a informática sem antes buscar condições mínimas para o seu manuseio.

Muitas vezes, os professores se sentem retraídos diante destas "novas" tecnologias, principalmente quando percebe que o domínio de seus educandos em relação a estes recursos é maior ou mais "natural" que o seu, e acabam evitando essa exposição e inibindo a busca por um resultado satisfatório para a sua prática pedagógica. Porém com a ajuda de um profissional competente, e com um processo de capacitação voltado diretamente para o professor, com o objetivo de familiarizá-lo com esta ferramenta, permitira que o sanasse essas inseguranças, apropriando-se da facilidade que a criança e o jovem possui em manusear essas tecnologias. Criando uma possibilidade de troca, cumplicidade e compromisso com o processo de aprender e ensinar.

Esta interação estreitaria os laços do relacionamento professor/aluno e aluno/aluno. Pois aquele que sabe um pouco mais irá auxiliar os que têm mais dificuldades, e estes, terão a humildade e a possibilidade de aprender.

1.2. Na prática:

Muitas vezes o mestre se depara com situações difíceis em sala de aula, com alunos de diferentes realidades sociais, com uma bagagem pré-estabelecida. Essa diferença faz com que as aulas precisem ser planejadas e elaboradas, visando atingir o máximo possível de aproveitamento individual desses aprendizes.

A informática, no geral é muita atrativa, e pode se tornar uma poderosa ferramenta de elucidação dos assuntos abordados. Conseguindo assim, "seduzir" os mais diferentes pensares dos jovens e crianças. Desta forma, pode ser usado como um "chamaris" para esses alunos que geralmente demonstram falta de interesse nos assuntos de aula.

Uma experiência interessante seria solicitar aos alunos ditos "problemas" que assumissem o compromisso com o professor, de monitorar as aulas de informática, ou seja, eles seriam os responsáveis pela localização de informações (fazendo com que assim ele se envolva com o conteúdo), pela organização dessas (aprendendo lições como: disciplina e pensamento lógico), manutenção do laboratório de informática e repasse do conteúdo encontrado (com isso esse educando estará trabalhando seus valores éticos, melhorando sua auto-estima percebendo suas capacidades cognitivas, e superando suas aparentes limitações. Além de se tornarem reconhecidos pelo resto da turma. O que resolverIa os problemas de indisciplina, já que eles estão sendo alvo de atenções, o motivo geral pelo qual na maioria das vezes esses alunos são indisciplinados). O professor pode aproveitar esse momento (da escolha do monitor) tornando-o solene e dando ênfase ao compromisso de cada um com o envolvimento na disciplina e no que fora aprendido, reforçado-o depois em sala de aula.

Esse tipo de experiência é apenas uma entre muitas possibilidades do bom uso dos computadores na educação como um aliado versátil e não mais um "Marketing" mercadológico (ou seja, pra mostrar que a escola é moderna e segue a tendências evolutivas da educação atual), mas como uma ferramenta, por que não dizer, resgatadora de uma série de valores pessoais e sociais.

A informática na educação sempre necessitará ser um meio de aprendizado, embuído de uma série de fatores motivadores anteriormente planejadas, para que não corra o risco de cair no mau uso, se tornando apenas num momento de diversão, numa aula "diferente" para agradar a pais (já que esperam que os mesmos sejam usados) e alunos, uma "oba-oba" sem planejamento. O que pode se tornar um pesadelo para o professor, pois sem planejamento, sua aula tecnológica corre o risco de se tornar em um "pandemônio modernizado".

O "mundo digital" abre uma série de "portas" e "janelas" para o saber. Além de excluir fronteiras, encurtar distâncias e aproximar pessoas do mundo inteiro. É como se todo conhecimento acumulado ao longo dos séculos, estivesse ao alcance de todos, com um simples clique. Entretanto, segundo a Apple, "a nova tecnologia não é um fator isolado" (1986). É necessário que seus usuários se tornem além de operadores, em agentes e transformadores deste mundo informacional, criando um novo paradigma pedagógico.



2. A INFORMÁTICA E O ENSINO

Existe uma enorme desigualdade em relação às condições das escolas públicas. Pois ainda uma grande maioria delas, não conta sequer com energia elétrica. Outras não têm nem mesmo, infra-estrutura própria, e poucas são as que estão informatizadas. Estas geralmente estão localizadas distantes daquela clientela que realmente necessitaria destes recursos, estudantes de periferias e áreas rurais. Que acabam sempre ficando a margem da evolução, do progresso e das possibilidades deste mundo dito: Globalizado... Já que o papel da ciência e da tecnologia nos dias atuais é tão intenso e presente que é quase impossível imaginar um espaço, onde hoje elas não se façam presentes. E quem não tem o mínimo de domínio sobre esses fatores, com certeza está excluído desse espaço.

Outro grande obstáculo, para aquelas escolas que já possuem laboratório de informática, é acreditar demasiadamente que essas tecnologias irão resolver todos os problemas educacionais, substituindo a relação do professor em sala, de aula virando uma tábua de salvação, para o sistema educacional, na maioria das vezes falido, que por se achar atualizado, tendenciona-se a estagnar, (parafraseando Marcos Bagno:2001) virando um "poço parado de conhecimento" e não um "rio caudaloso de pesquisa" que deveria ser seu real empenho e função. Muitos não percebem que o computador, a televisão e a mídia em geral devem ser vistas como um auxiliar e não como um substituto da aula expositiva, do contato professor/aluno, da troca entre colegas... pois se fosse assim o indivíduo não necessitaria se abalar de sua casa até a escola, já que grande maioria das crianças e jovens da classe média possui estes equipamentos na sua própria casa.

2.1. Atitude a ser tomada

O professor deve sim valorizar e lançar mão destes meios, no entanto, como já fora dito, como um recurso a mais para tornar sua aula atrativa e dinâmica. Com o crescente número de CD-ROMS e softwares, mesmo não sendo diretamente direcionada a educação, permitem ao estudante um acesso mais rápido e lúdico ao conhecimento.

Mediando o correto uso, permeando pesquisas e produções, o professor interferirá positivamente no uso dos mesmos. Pois sem essa intervenção, o uso ficará restrito a um ato de recepção (passiva) de informação (muitas vezes manipuladas), quando não, apenas mais uma forma de diversão.

Todavia, é fundamental vencer estes primeiros desafios colocados pela informatização no ambiente escolar. Democratizando o seu acesso, e estudando minuciosamente as implicações na questão de organização do sistema de ensino. Evitando assim aprofundar-se mais ainda no enorme abismo que distancia as camadas sociais, culturais e econômicas de nosso país, ao invés de inclusão digital (que tanto se comenta) estaremos tornando a informática em mais um sistema exclusor.



3. CONCLUSÃO

Educação e Informática são duas realidades irmanadas nas esperanças de um futuro melhor, onde as informações adquiridas e elaboradas nestes primeiro ambiente possam se difundir aos mais diversos lugares em tempo e quantidades recordes. No mundo contemporâneo, a aliança entre: tecnologia, pesquisa e saber, são capazes de criar uma nova forma de moldar o futuro, antecipando-o.

Antes dessa "parceria" o acesso ao saber elaborado, despendia um grande tempo e esforço. Mas hoje isso é instantâneo. Devemos ter cuidado então para que a reelaboração ativa deste saber se dê de uma forma saudável e produtiva. Então cabe a escola e a seus agentes, utilizar corretamente essa aquisição. Moldando-a conforme sua realidade e necessidade. Isso é um mundo globalizado, o saber é de todos, mas seu uso é individual, local e real. Não apenas uma célula passiva no organismo vivo da estrutura mundial.

O ser humano é dotado da capacidade de gerar transformação, contribuir com o movimento evolutivo (às vezes positiva, outras negativamente), mas, nós educadores não podemos deixar de conscientizar o sujeito de seu papel nessa transformação. A informática é uma ponte de ligação entre os mais diversos processos de cognição. Porém não podemos permitir o distanciamento da cultura tecno-ciêntífica da humanística. Integrá-las, é sem dúvida o grande desafio da escola hoje. E precisa ser enfrentada com urgência pelos educadores em geral.

Caso isso não ocorra às previsões para o futuro provavelmente serão caóticas, pois infelizmente haverá uma nova seleção em nossa existência, e dessa vez não será uma seleção natural, mas sim tecnológica. Nos tornaremos tão dependentes do computador, a ponto de não sabermos mais como viver sem sua presença (será que isso está tão distante?), relembremos o ocorrido na virada do último século quando nos deparamos com o chamado "bug do milênio". Se isso já causou todo esse transtorno, a ponto de preverem o caos com a parada total das atividades comerciais contemporâneas, imagine qual será a nossa dependência dessa máquina daqui alguns anos...

Precisamos perceber que a máquina foi criada com o objetivo único, de facilitador do nosso dia-a-dia e não como um instrumento ceifador de nossa idepêndencia. Se a escola não der o primeiro passo para percpção desta e de outras realidade, quem o fará? A globalização? Com certeza não, pois esta está economicamente intrincada com os paises desenvolvidos, e para eles esse fator alienador, lhes é favoravelmente útil. Cabe então à educação esse árduo papel.

A informática deve sim ser usada, não podemos fugir dela, mas podemos a utilizar em prol de uma realidade mais concreta, possibilitadora de um avanço real da cultura do saber, não ficando apenas na subjetividade do mundo virtual; antes, engajá-la ao mesmo. "Nunca se soube tanto em tão pouco tempo", mas nunca também se teve notícia, de um distanciamento tão grande dos valores morais e éticos em nossa sociedade. Algo precisa ser feito. Mas nada será possível se os formadores de opinião, entre eles os professores, não discutirem buscando novas alternativas para esta realidade que bate a nossa porta.

Quiçá assim, possamos contrapor esses dois mundos, gerando uma nova forma de ver o processo de ensino-aprendizagem, através da nova realidade transformacional em que estamos inseridos. Precisamos urgentemente tomar o leme da modernização, para que não nos tornemos "escravos virtuais" do sistema globalizado.

Pois como utopicamente sonha a poetisa Rosena Kligerma Murray:

"No ano 3000

os homens já vão ter

se cansado de máquinas

e as casas serão novamente românticas.

O tempo vai ser usado sem pressa:

Gerânios enfeitarão as janelas,

Amigos escreverão longas cartas.

Cientistas inventarão novamente

o bonde, a charrete.

Pianos de cauda encherão as tardes de música

E a Terra flutuará no céu

muito mais leve, muito mais leve."



REFERÊNCIAS

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PRETTO, N. de L. Uma escola sem/com Futuro - educação e multimídia, Campinas: Papirus. 1996, capítulo III

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